Crônica: “Não” (Argumentação)

O texto a seguir foi escrito pelo engenheiro Haylton Santos, 48 anos e pai de três filhas, a pedido da revista Pais&Teens. Nele o engenheiro dá sua opinião sobre o uso de piercings, a propósito da seguinte pergunta, feita pela revista: “Body piercing: você deixaria seu filho usar?”.

Leia o texto e responda às questões propostas:

Não

 O uso do piercing me passa a ideia do ”ter que ter”, do ter que usar “porque minha tribo está usando”. Algo como na caneta Montblanc para os executivos.

Mesmo pensando na questão por um ângulo puramente estético, o piercing não me agrada. Eu ainda prefiro, por exemplo, os inúmeros aros no pescoço das africanas, ou os ossos e argolas dos poucos índios que nos restam. Além de me parecerem mais consistentes em sua beleza particular, tais enfeites têm significado cultural que ultrapassa uma fase de vida. (mais…)

Published in: on março 21, 2020 at 10:18 pm  Deixe um comentário  

Crônica: Eu sei, mas não devia (Marina Colasanti)

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão. (mais…)

Published in: on março 21, 2020 at 10:12 pm  Deixe um comentário  

Crônica: A Fuga (Fernando Sabino)

Mal o pai colocou o papel na máquina, o menino começou a empurrar uma cadeira pela sala, fazendo um barulho infernal.

   — Para com esse barulho, meu filho – falou, sem se voltar.

  Com três anos já sabia reagir como homem ao impacto das grandes injustiças paternas: não estava fazendo barulho, estava só empurrando uma cadeira.

        — Pois então para de empurrar a cadeira.

        — Eu vou embora – foi a resposta. (mais…)

Published in: on outubro 24, 2019 at 4:50 pm  Deixe um comentário  

Crônica: O verbo For (João Ubaldo Ribeiro)

Vestibular de verdade era no meu tempo. Já estou chegando, ou já cheguei, à altura da vida em que tudo de bom era no meu tempo; meu e dos outros coroas. Acho inadmissível e mesmo chocante (no sentido antigo) um coroa não ser reacionário. Somos uma força histórica de grande valor. Se não agíssemos com o vigor necessário — evidentemente o condizente com a nossa condição provecta —, tudo sairia fora de controle, mais do que já está. O vestibular, é claro, jamais voltará ao que era outrora e talvez até desapareça, mas julgo necessário falar do antigo às novas gerações e lembrá-lo às minhas coevas (ao dicionário outra vez; domingo, dia de exercício).
(mais…)

Published in: on outubro 24, 2019 at 1:21 pm  Deixe um comentário